A TRAGÉDIA “DE MARIANA” E O TURISMO NA CIDADE

Mariana

Distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da Barragem do Fundão

(Fonte:http://oglobo.globo.com/brasil/regiao-das-barragens-em-mg-registrou-quatro-tremores-17981373)

                Era 5 de novembro quando olhávamos desacreditados e entristecidos a notícia do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana. Nos dias seguintes, imagens da maior tragédia ambiental da história do Brasil. O Rio Doce estava morto. Em meio às notícias, nos demos conta que estávamos com viagem programada para a região. E agora? Pois bem, nossa viagem a partir dali tinha um objetivo a mais: ver e ouvir das pessoas que ali vivem os impactos da tragédia para a cidade e região.

mariana1                Pouco menos de dois meses depois, chegamos em Mariana. Jamais esqueceremos dos relatos que ouvimos no dia 27 de dezembro, dois dias depois do Natal. A personagem principal dessa história é a Rose, recepcionista do Hotel Providência, um dos muitos da cidade que abriu as portas para receber quem tinha perdido tudo na tragédia. Passamos em frente do hotel e resolvemos entrar. Perguntamos para a Rose onde estavam vivendo as pessoas do Distrito de Bento Rodrigues. A partir dali ouvimos um relato de quase uma hora de quem vivenciou tudo. A Rose começou a trabalhar no Hotel justamente para ajudar quem ali chegava. Foram dias de muita tristeza e desolação. Pessoas que perderam todos seus bens materiais, documentos, registros de uma vida toda. Mais triste ainda aqueles que perderam seus familiares. A Rose nos contou que ali no hotel se hospedou a mãe de uma menininha morta no desastre. Segundo relatos, o número de mortes e desaparecidos é bem maior do que o divulgado na mídia.

                Assim como Bento Rodrigues, Paracatu foi um outro distrito completamente destruído pela onda de lama. A Rose foi nesse distrito ver a situação de perto e voltou arrasada. Nos mostrou algumas fotos em seu celular. Imagens impressionantes. “A natureza acabou”, disse ela em um tom emocionado. O local está interditado, pois a lama aparentemente seca por cima, ainda está muito mole na parte de baixo.

                Segundo ela, dois bombeiros, passaram nas casas avisando todos para sair, pois a onda se aproximava. Foram esses dois heróis os responsáveis por salvar dezenas de vidas. Eles estiveram no Hotel para reencontrar os sobreviventes e a Rose disse que foi um momento marcado por muita emoção e gratidão.

                 mariana3Hoje, as 365 famílias (mais de 900 pessoas) já estão reassentadas em casas ou apartamentos alugados pela Samarco. Somente 4 famílias optaram por continuar hospedadas nos hotéis da região. As casas foram alugadas por um ano. O projeto da comissão que está à frente da reestruturação dos vilarejos é ter acesso a uma nova área com características similares e construir as vilas exatamente como eram, com a mesma estrutura, mesmas ruas, vizinhos, a fim de manter a identidade. O sonho de todos é poder voltar a conviver com os amigos, cuidar da horta, das galinhas, do gado. Por enquanto, basta esperar e sobreviver com o salário pago pela mineradora.

Foto: O Jornal do dia em  Mariana.

                Com relação a mineradora, sentimos que há uma mistura de sentimentos por parte da população.  Todos entendem que esse acidente não poderia ter ocorrido, mas por outro lado, percebem o envolvimento da Samarco para minimizar os impactos. Além disso, grande parte da população depende da mineradora para sobreviver, uma vez que essa é a principal geradora de renda na região e uma grande parte da população trabalha na Mineradora. Não escutamos ninguém se posicionando totalmente contra a mineradora. Isso nos deixou bastante surpresos.

              Nossa opinião a respeito do fato é a seguinte: A Samarco está pagando os prejuízos materiais causados pelo rompimento das barragens. Contudo, o ambiente onde esse desastre ambiental ocorreu vai levar dezenas de anos para se recuperar. É inadmissível uma mineradora deixar acontecer essa tragédia. Foi um acidente? Sim. Todavia, no intuito de lucrar mais, os investimentos nas barragens foram menores que o necessário. No afã de lucrar, a Mineradora destruiu o ecossistema de uma região e a vida de centenas de moradores desses distritos. As pessoas que administram essa empresa devem ser julgadas e, se punidas, cumprirem sua sentença.

                Contudo, a tragédia de Mariana não acabou apenas com o Rio Doce e com a vida desses dois vilarejos. Um outro problema surgiu após o rompimento do Fundão. Com a mídia divulgando a tragédia em Mariana, o turismo na região teve um decréscimo enorme, uma baixa de quase 40%. Muitos turistas cancelaram suas diárias e não vieram para a cidade, pois acreditavam que ela estaria sob efeito do desastre. Vale salientar que a tragédia ocorreu em dois distritos de Mariana, distantes quase 30km da parte histórica. O Centro Histórico continua lindo, bem preservado e cheio de história para todos que aqui chegarem. A solidariedade veio de todos os lados. E nós acreditamos que, agora, uma das melhores maneiras de ajudar esse povo é justamente visitando a região, fazendo com que haja a entrada de renda para a cidade. Visite Mariana! Viva Mariana!

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Foto: O belo centro histórico de Mariana.

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